11 de agosto de 2010

Texto Atitude

Dançando para não dançar


Tudo se move. E tudo se move com um ritmo. E tudo que se move com um ritmo provoca um som. Isso está acontecendo aqui e em qualquer lugar do mundo neste momento. Nossos ancestrais notaram a mesma coisa, quando procuravam fugir do frio em suas cavernas: as coisas se moviam e faziam barulho.

Os primeiros seres humanos talvez tivessem olhado isso com espanto, e logo em seguida com devoção: entenderam que essa era a maneira de uma Entidade Superior comunicar-se com eles. Passaram a imitar os ruídos e os movimentos à sua volta, na esperança de comunicar-se também com essa Entidade: a dança e a música acabavam de nascer.

Quando dançamos, somos livres.

Melhor dizendo, nosso espírito pode viajar pelo universo, enquanto o corpo segue um ritmo que não faz parte da rotina. Assim, podemos rir de nossos grandes ou pequenos sofrimentos, e nos entregarmos a uma experiência nova sem medo. Enquanto a oração e a meditação nos levam até o sagrado através do silêncio e do mergulho interior, na dança celebramos junto com os outros uma espécie de transe coletivo.

Pode-se escrever o que se quiser sobre a dança, mas de nada vale: é preciso dançar para saber do que se está falando.

Dançar até a exaustão, como se fôssemos alpinistas subindo uma montanha sagrada. Dançar até que, por causa da respiração ofegante, nosso organismo possa receber oxigênio de uma maneira a que não está acostumado, e isso termina por fazer com que percamos nossa identidade, nossa relação com o espaço e o tempo.

Claro que podemos dançar sozinhos, se isso nos ajuda a vencer a timidez.

Mas, sempre que possível, é melhor dançar em grupo, porque um estimula o outro, e termina-se criando um espaço mágico, com todos conectados na mesma energia.

Para dançar, não é necessário aprender em academias; basta deixar que o corpo ensine — porque dançamos desde a noite dos tempos, e não esquecemos isso. Quando eu era adolescente, ficava com inveja dos grandes “bailarinos” da minha turma da esquina, e fingia que tinha outras coisas para fazer durante as festas — como ficar conversando, por exemplo. Mas na verdade eu tinha pavor do ridículo. Até que um dia uma menina, chamada Márcia, me disse na frente de todo mundo: — Venha.

Eu disse que não gostava; ela insistiu.

Todos do grupo ficaram olhando e, porque eu estava apaixonado (o amor é capaz de tantas coisas!), não pude recusar mais. Fiz um papel ridículo, não sabia seguir os passos, mas Márcia não parou. Continuou dançando, como se eu fosse um Rudolf Nureyev.

— Esqueça os outros e preste atenção no baixo — sussurrou ao meu ouvido. — Procure seguir o seu ritmo.

Naquele momento, entendi que nem sempre é necessário aprender as coisas mais importantes; elas já fazem parte da nossa natureza. Na juventude, a dança é um rito de passagem fundamental: experimentamos pela primeira vez um estado de graça, um êxtase profundo, mesmo que para os menos avisados tudo não passe de um grupo de rapazes e moças divertindo-se em uma festa.

Quando ficamos adultos, e quando envelhecemos, precisamos continuar dançando. O ritmo muda, mas a música é parte da vida, e a dança é a conseqüência de deixarmos que esse ritmo penetre em nós.
Continuo dançando sempre que posso.

Com a dança, o mundo espiritual e o mundo real conseguem conviver sem conflitos. Como disse alguém que não me lembro, os bailarinos clássicos ficam na ponta dos pés porque estão ao mesmo tempo tocando a terra e alcançando os céus.

(Texto de Paulo Coelho, publicado no jornal O Globo – 22/abr/2007)

10 de agosto de 2010

O Dançar de uma deusa


Nesse sentido, a redescoberta atual da dança que reorganiza particularmente as funções do ventre tem significado elevado e é facilitador do processo de conscientização das pessoas. Essa dança, porém, não pode ser vista como um mero exercício: ela já fez parte de uma religião muito antiga, ligada ao culto da Terra e do útero poderoso da deusa.



Os procedimentos da dança do ventre são sérios e merecem o respeito das coisas transcendentes e sagradas. Talvez, assim, o conhe-cimento e a luz do ventre apareçam para serem unidos à sabedoria luminosa do coração à mente do ser humano.
                                                      

Breve relato da Dança do Ventre

RAKS SHARKI (Dança Oriental)

A origem da dança oriental (mais conhecida como dança do ventre) remonta tempos muito antigos, a-credita-se que o surgimento tenha sido no antigo Egito por volta de 7 a 5 mil anos atrás antes de Cristo, durante a dinastia faraô-nica, quando eram celebrados rituais em templos em homenagem a deusas como Ísis. Essa era uma forma de louvar a fertilidade tantos das mulheres como do rio Nilo, de suma importância para aquele país, cujas cheias proporcionavam alimento para a população.



A dança pode ser considerada uma arte sagrada, se for leva-do em conta o seu surgimento como parte integrante de um rito.

As mulheres do mundo árabe dançam umas para as outras, e para elas mesmas. Elas formam um grupo e, uma por vez levan-ta-se e desenvolvem sua performance, para suas irmãs e amigas, sem a presença de homens. Celebram assim a espiritualidade e a força feminina, e transmitem beleza e liberdade por meio da sua expressão particular.

A dança do ventre designa-se unicamente ao corpo feminino, enfatizando os músculos abdominais e os movimentos de quadris e tórax. Ela é praticada com os pés descalços firmados no solo, e caracteriza-se pelos movimentos suaves, complexos e sensuais do tronco, alternados com movimentos de batidas e tremido.

É importante entender e reconhecer as modalidades, estilos e ritmos da música árabe, para acompanhar as suas constantes alternâncias, e poder aplicá-las aos movimentos e números específicos.


** Dança do Véu: Representa leveza e flexibilidade. O véu está presente em várias passagens de textos que falam sobre a dança dos povos do antigo Egito, por isso é previsível que este seja muito usado pelas bailarinas na atualidade. Quando se fala sobre a importância e o significado do véu, devemos lembrar que os movimentos na Dança do Ventre estão relacionados aos animais, às plantas, aos símbolos da mitologia egípcia e aos quatro elementos da natureza. Portanto, podemos relacionar o véu com o elemento ar (com os ventos que sopram do deserto). O aprendizado da leveza como o despertar da auto-descoberta, ou seja, todas temos a capacidade da leveza dentro de nós, bastando despertá-la e habilitá-la. A dança com véu pode variar de acordo com a intenção e criatividade da bailarina: pode-se dançar com um único véu, com dois ou até nove véus. Algumas bailarinas fazem uso do véu aliado aos snujs, por exemplo, querendo assim demonstrar sua habilidade com os acessórios da dança. 
7 véus: Uma das danças mais fortes e enigmáticas. Dança sa-grada onde cada véu corresponde a um grau de iniciação. Os sete véus representam os setes chackras em equilíbrio e har-monia. A retirada e o cair de cada véu significam o abrir dos olhos, o cair da venda que desperta a consciência da mulher e a evolução espiritual.

Punhal: representa mistério e transformação.


Dança do Candelabro: (Raks al Shamadan): Está relacionada às celebrações de casamentos. O candelabro, a s velas que trabalham com o elemento Fogo representam a transformação e transmutação. A dança com o candelabro é tradicionalmente apresentada na maioria dos casamentos egípcios, aonde a dançarina conduz o cortejo do casamento, desta maneira ela procura iluminar o caminho do casal de noivos, como uma forma de trazer felicidades.


Dança das taças (com as velas): A dançarina exterioriza sua deusa interior, fazendo do seu corpo um veículo sagrado, utilizando o fogo das velas que representam a Vida.



Snujs (ou sagat): são pequenos címbalos de metal, que eram usados pelas sacerdotisas para energizar, trazer vibrações po-sitivas e retirar maus fluidos do ambiente, além de servir para acompanhar a percussão no ritmo da música.


Pandeiro (Daff): Tem origem na antiguidade destacada na dança cigana egípcia relatados na Ásia e África do Norte por volta de 3.000 anos a.C. Existem vários tipos de pandeiro de diferentes origens. É uma dança folclórica que tem como ca-racterística principal a Alegria e Dinamismo de forma bem na-tural. Representa o Elemento Terra que engloba abundância, fartura, feminilidade e naturalidade. E assim como os snujs também acompanha a percussão no ritmo da música. Os rit-mos mais utilizados para esta dança são: Falahi, Maksum, Malfuf e Said.


Solos de Derbake: A origem desta modalidade vem desde o tempo dos rituais, pois eram acompanhados pelas batidas for-tes da percussão, em que a sacerdotisa acompanhava as mesmas com precisão, exaltando as forças da Terra. Elas en-travam dançando nos templos, energizando com seus pés que se movimentavam, representando as forças dos elementos e os animais da terra. Os árabes, ao invadirem o Grande Egito, se encantaram com essa dança, ensinando para as suas mu-lheres, pois muito lhe agradavam. E a música é muito rica em ritmos.



Said (dança do bastão ou bengala): É uma dança masculina originária de Said, região do Sul do Egito, chamada Tahtib. Nela são usados longos bastões chamados ‘shoumas’; estes bastões eram usados pelos homens para caminhar para pas-torear o rebanho e para se defender. Nos tempos antigos, quando chegava o final da tarde, os pastores que dançavam alegremente com esses bastões e com suas mulheres nos oá-sis do deserto em volta das tendas nas noites enluaradas.




O Uso do bastão faz parte da dança Said ou Saaidi e este instrumento que hoje é usado como forma de adorno e para de-monstrar habilidades, serviu em tempos remotos como arma de defesa e ataque nas lutas e combates. A versão original como já mencionado pertencia ao repertório masculino, pois o bastão também significa um símbolo de virilidade. Porém, o papel das mulheres dentro da sociedade tornou-se notável e o uso do bas-tão por elas pode ter um efeito figurativo. Ao desarmar o ho-mem, a mulher egípcia toma o seu bastão demonstrando habilidade, equilíbrio, alegria e charme.




Os principais movimentos com o bastão são: giros verticais, horizontais, transversais sempre em harmonia com o trabalho dos quadris, busto. Requer muita habilidade, a graça e a leveza são fundamentais contrastando com movimentos mais fortes. O traje é mais fechado, não mostrando o ventre.



Dança da Espada (Raks el Seif): Provavelmente a origem da dança tem a ver com a chegada de guerreiros e guardiões das vitórias de guerra, quando as mulheres pegam as espadas e dançavam como uma espécie de troféu aos vendedores, ao som dos snujs. Equilibram as espadas na perna, no quadril, na cabeça e no busto. Dançar com a espada permite equilíbrio e domínio interior das forças densas e agressivas, demonstra poder e, além disso, corta as energias negativas do ambiente. A Espada corresponde ao elemento metal e seu complementar o Ar. O metal representa resistência, solidez e equilíbrio. Sua aparência inicial é de frieza, porém é basicamente condutor de calor e eletricidade. Elemento associado à abundância, fartura e poder. O elemento Ar representa a Vida, a liberdade, movimentação e transmutação. Associado a leveza é considerado como elemento de comunicação.